sábado, 5 de novembro de 2016

A formação multidimensional do homem

A mudança através da educação pressupõe uma mudança da perspectiva do educador, saindo do paradigma da exposição de conteúdo para um novo paradigma de formação multidimensional do homem, considerando a formação como uma atuação na integralidade humana e na sua capacidade e responsabilidade de construir as escolhas politicas para o bem comum. Segundo Libâneo (2000), a formação do educador é um processo político e pedagógico intencional, com as dimensões teórico-científico da área do docente, mas também a formação pedagógica em filosofia, sociologia, história da educação e da pedagogia e suas concepções que estudam o fenômeno educativo a partir do contexto sócio histórico, porque a educação possui uma função essencialmente social. O homem quando foca exclusivamente a formação técnica em sua educação formal, na verdade está reduzindo a importância de seu papel social a um elemento produtivo de bens e serviços. Em Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley (1932), retrata o extremo de uma vida orientada para o trabalho e produção, onde as pessoas eram condicionadas para uma determinada função social e um comportamento em harmonia com as leis e regras sociais. Nessa hipotética sociedade, a individualidade, a livre iniciativa, a criatividade e os direitos individuais eram anulados. As pessoas eram educadas para esse tipo de sociedade e viviam somente para o fim produtivo, sem questionar as decisões políticas de sua administração pública. Em nossa realidade, somos um país democrático, orientado para o respeito dos direitos e garantias individuais. Os cidadãos devem ser preparados dentro de uma integralidade do ser humano, nas dimensões social, intelectual, emocional e volitivo. Deve exercitar todos os aspectos do seu desenvolvimento humano, integrando sua formação técnica a todos os complexos fatores da existência humana. O cidadão, enquanto participante das decisões que impactam a sua vida e da sociedade, deve ser estimulado a dialogar com o poder, deixando claro que “o poder emana do povo e em seu nome é exercido” conforme preconiza nossa constituição federal. Conforme Paulo Freire (1996) “A desconsideração total pela formação integral do ser humano e a sua redução a puro treino fortalecem a maneira autoritária de falar de cima para baixo. Nessa caso, falar a, na perspectiva democrática é um possível momento do falar com, nem sequer é ensaiado”. No aspecto social, lembro Edgar Morin (2000), falando sobre ensinar a condição humana: “O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico”. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência ao mesmo tempo de sua unidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos. A perspectiva humana da educação nos conduz a fazer escolhas corretas, podendo decidir inclusive sobre a relevância do conteúdo e sua importância na aplicação prática do cotidiano e sua adequação à satisfação do anseio da sociedade. O educador moderno precisa estender sua atuação para a dimensão da consciência. Paulo Freire (2000) escreveu “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco, a sociedade muda”. A educação para a transformação da realidade repele posições simplistas na intepretação do mundo, face ao anseio de profundidade na análise do mesmo, com a convicção de que a realidade está em mutação contínua. A mudança não torna o passado necessariamente pior, ou melhor, mas as mudanças devem ser aceitas na medida de sua validade e adequação às demandas do presente. O educador está inserido no movimento de mudança, sendo um líder ativo na influência sobre os educandos. O educador deve incluir doses de ética, de valor à vida e defesa dos direitos e garantias individuais, da aceitação do diferente na convivência plural, além do conhecimento técnico necessário à formação do profissional. O educador enquanto líder exerce influência sobre o grupo e sobre cada aluno individualmente, sendo capaz de potencializar a capacidade de cada um, por meio de inserção não somente da teoria, mas da prática adquirida de sua experiência pessoal. Tratando do papel do educador, Paulo Freire (2011), enfatiza o dever do educador democrático de reforçar a capacidade crítica do educando. O educador não deve focar somente no conteúdo aplicado ao educando, no sentido de transferir conhecimento e informações, mas criar condições onde se pode aprender criticamente, incluindo o educando para participar como sujeito do processo de aprendizado. Quando o educando torna-se um partícipe ativo, produz a prática do pensamento crítico e autônomo e a partir disso, introduzir o ideal de uma escola como espaço político, contribuindo para a prática democrática, onde a sociedade atua ativamente como autores da história e não apenas ouvintes passivos. No contexto brasileiro, o governo federal deu os primeiros passos para uma evolução na educação superior, quando elegeu a reforma universitária como uma de suas prioridades no início de 2004. Na entrevista que o então ministro da educação enfatiza que a reforma deve buscar rigor e qualidade. O objetivo do governo é que a universidade esteja integrada a um amplo projeto nacional de desenvolvimento econômico e social. A reforma da universidade brasileira não é uma exigência apenas de ordem acadêmica e não diz respeito apenas aos interesses de estudantes, professores e funcionários que integram a nossa universidade. A universidade brasileira, enquanto totalidade está defasada em relação ás grande necessidades do país para a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento, de inclusão social, de altas taxas de crescimento, de agregação de valores aos nossos produtos e de criação de condições para que tenhamos centros de pesquisa, de extensão e de produção cientifica e tecnológica altamente gabaritada para que o Brasil exerça plenamente a sua soberania. (Revista Ensino Superior, abril de 2004). Nos princípios e diretrizes que nortearam a elaboração da lei orgânica, fala-se inicialmente na Missão da Educação Superior, fala-se de uma universidade garantindo a participação da comunidade na supervisão de suas práticas acadêmicas, expressando prática democrática vivida em sociedade pluricultural, possibilitando acesso e permanência da educação superior para todas as classes. Os desdobramentos seguintes das diretrizes buscam solucionar a questão do financiamento, da avaliação, da estrutura e gestão, do acesso e permanência e do conteúdo e programas. No quesito acesso e permanência, o governo adotou medidas concretas de inclusão através do PROUNI, Reserva de vagas e bolsas integrais cedidas pelas instituições filantrópicas que gozam de isenção fiscal. O discurso e o movimento do governo dizem respeito à qualidade técnica do ensino, com vistas à melhoria da qualidade geral do “produto brasileiro”, ou seja, a o impacto econômico do ensino e a garantia do acesso e do financiamento da educação. A identidade das universidades e das faculdades e sua função social se definirão no projeto pedagógico. Esse projeto, baseado na finalidade e no objetivo da educacional da construção de uma cidadania participativa e integrada á política. Como disse Gadotti (1997), o projeto político-pedagógico pode ser confundido com um plano de intenções, um plano de ação; entretanto ele faz parte do projeto, mas não é o projeto. Vai mais além e se apoia em três pontos fundamentais: 1. No desenvolvimento de uma consciência crítica e cidadã. 2. No envolvimento da comunidade interna e externa. 3. Na autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto do projeto. O projeto pedagógico é construído a partir da realidade histórica da sociedade e das novas demandas do contexto politico, respeitando o pluralismo, a dignidade da pessoa humana e considerando o educando como agente atual ou potencial das decisões democráticas que permeiam a vida em sociedade. Os projetos educativos devem atender à necessidade social presente e futura, o que denota atenção e estudo dos problemas que vão surgindo na dinâmica social. O Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932 surge a partir das necessidades de formação geradas pelo advento da República no Brasil. A educação no Brasil segundo os manifestantes estava a serviço das profissões liberais, como engenharia, medicina e direito, que visava o atendimento dos serviços sociais básicos. Dizia parte do manifesto “Ao lado das faculdades profissionais existentes, reorganizadas em novas bases, impõem-se a criação simultânea ou sucessiva, em cada quadro universitário, de faculdades de ciências sociais e econômicas; de ciências matemáticas, físicas e naturais, e de filosofia e letras que, atendendo às variedades de tipos mentais e das necessidades sociais, deverão abrir às universidades que criarem ou se reorganizarem, um campo cada vez mais vasto de investigações científicas”. A nova realidade democrática vigente então passa a exigir a formação de cidadãos engajados no compromisso de influenciar nos destinos do país, na elaboração das leis e na gestão do bem público, demandando para isso, profissionais de nível superior com formação técnica, mas também com responsabilidade política e social.

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