sábado, 5 de novembro de 2016

Aprendizagem programada versus aprendizagem significativa

Vamos traçar aqui um paralelo entre aprendizagem programada de Skinner e a aprendizagem significativa, discorrendo sobre os riscos e benefícios de cada uma. Muito se fala sobre as vantagens de uma aprendizagem significativa na construção de um indivíduo mais independente, mas a aprendizagem programada não deve ser desprezada, pois não são antagônicas. Há situações que se faz necessário memorizar como preconiza a aprendizagem mecânica, e em seguida as informações são relacionadas a outras, produzindo uma aprendizagem mais duradoura. Nessas situações a aprendizagem de mecânica se complementa na aprendizagem significativa. De acordo com estudos de David Ausubel (defensor da teoria da aprendizagem significativa), quanto mais sabemos, mais aprendemos. O fator isolado que mais influencia o aprendizado, segundo ele, é aquilo que o aprendiz já conhece. Sua teoria se opõe ao Behaviorismo vigente, onde a ideia da influência do meio sobre o sujeito é fator predominante. Nessa teoria, o que os alunos sabiam não era levado em conta e acredita-se que só aprendiam se fossem ensinados. Para Ausubel, aprender significativamente é ampliar e desenvolver conhecimentos já existentes, criando relações e ligações com novos conteúdos. Suas teorias possuem alinhamentos com outras do século 20, como a do desenvolvimento cognitivo de Piaget e a do sociointeracionista de Levy Vygostky, ou seja, ideias construtivistas e socioconstrutivistas. Piaget defendia e enfatizava a participação ativa do aluno na construção do conhecimento, o aprendiz é que constrói o conhecimento. Vygostky enfatizava a interação, reforçando a importância do professor na aprendizagem. É na interação que se produz o conhecimento, o professor atuando como mediador.Ausubel considera que a assimilação de conhecimentos ocorre sempre que uma nova informação interage com outra existente na estrutura cognitiva, mas não com ela como um todo; o processo contínuo da aprendizagem significativa acontece apenas com a integração de conceitos relevantes. A proposta da aprendizagem significativa de Ausubel é que o aluno evolua do sentido simples das coisas baseado na sua percepção, para o significado delas. Na construção de uma aula significativa deve-se oferecer ao aluno contextos que aproximem o conteúdo de sua realidade. O professor deve construir o conceito com o aluno. A teoria de Ausubel foca a aprendizagem cognitiva e se ancora em uma explicação teórica do processo de aprendizagem. A aprendizagem significativa envolve a interação em nossa memória de trabalho de uma informação nova associada a um conhecimento específico que já tínhamos guardado, agregando um novo conceito, ideia ou habilidade ao cérebro humano. A informação nova associada a um conhecimento prévio cria ligações que formam novo conhecimento em nossa memória de longo prazo, que é o aprendizado. Quando o conhecimento novo não se relaciona a nada do que já sabemos, tende a se fixar em uma área de nosso cérebro de modo não permanente, sendo esquecido em seguida. O professor pode em suas aulas, citar fatos, músicas, filmes e experiências do cotidiano dos alunos para criar ligações do conhecimento prévio do aluno com o novo conteúdo a ser aplicado. Segundo Ausubel a aprendizagem ocorre, quando o aprendiz evolui de uma interpretação particular das coisas, ou seja, do sentido delas, para uma interpretação do significado das mesmas. O método produz em sala de aula uma maior colaboração e trabalho coletivo. Parte-se do conhecimento cotidiano para a produção do conhecimento. A vantagem do método é produção de pessoas mais colaborativas, cooperativas, que tenham compromisso com a sociedade e que saibam tanto ouvir quanto apresentar suas ideias. Formam-se pessoas não necessariamente que detenham muito conhecimento, mas que saibam pesquisar, construir, buscar informações que estejam faltando, que saibam compartilhar esse conhecimento estabelecendo conexões e redes de cooperação. A ideia de um método de educar que leve em conta o conhecimento prévio do aluno, que valorize a importância dele na construção do saber, parece mais adequado para a formação de um cidadão mais consciente do seu papel dentro do seu grupo social. Um papel participativo, engajado e comprometido com a solução dos problemas. Um papel de quem entende que o cidadão tem responsabilidades sociais e políticas com sua comunidade, contribuindo com parte das respostas. Para Skinner, o tema central de sua teoria é o comportamento. A aprendizagem concentra-se na capacidade de estimular ou reprimir comportamentos desejáveis e indesejáveis. Baseado no princípio do comportamentalismo (Behaviorismo), o ensino é construído quando o que precisa ser ensinado pode ser colocado sob condições de controle de comportamentos observáveis. Assim, segundo Skinner a aprendizagem ocorre na adoção de novos comportamentos, através de estímulos e reforços, o que passa a ideia de uma aprendizagem mecanizada, no entanto, apregoava que o aprender deve ser suave, gostoso, agradável e gradual. Apesar de enfatizar a eficiência do reforço positivo, defendendo que todo comportamento é determinado pelo ambiente, não chega ao extremo proposto por John Watson, cujos estudos se concentram no estimulo-resposta, tratando o homem como um ser autômato, cujo comportamento é determinado por uma série de respostas observáveis a estímulos externos. Skinner acreditava, no entanto, que o homem sendo um ser em construção, é modificando pelo ambiente, mas também age modificando-o. Para o Watson, nós somos o que fazemos, e que fazemos é o que o meio nos leva a fazer. Nesse sentido, sua teoria minimiza a capacidade volitiva do homem, diminuindo a responsabilidade individual de cada qual por seus atos. Skinner também enfatizava muito a influência do ambiente no comportamento, apesar de defender uma interação não passiva, a tendência era de rejeitar a noção de livre arbítrio. Na aprendizagem programada há uma grande ênfase na importância do professor e no conteúdo, sendo este e até o material didático considerado como autoridade detentora do conhecimento. Skinner dizia que o que nós fazemos é selecionado pelas consequências de nossa ação. Estudos foram realizados com vários grupos humanos. Uma consequência agradável decorrente de algum comportamento específico aumenta a probabilidade do comportamento se repetir. As consequências punitivas ou aversivas produzem efeito contrário, reduzindo a reincidência do comportamento, porque produz ansiedade e tensão que provoca desestímulo. Ele não acreditava que o aprender dependia exclusivamente do ser que aprende, no entanto, defendia que as melhores condições de ensino são aquelas que respeitam as características individuais de cada um, por isso era necessário que cada aluno tivesse seu ritmo respeitado, que o curso seja dividido em pequenas unidades e que cada aluno só passe de uma unidade para a seguinte, após dominar completamente o conteúdo da unidade em curso. No método de Skinner, o conteúdo é assimilado por meio de memorização e repetição e as aulas em geral são expositivas, onde o professor mantem o foco no planejamento da aula e não leva em conta o conhecimento prévio de cada aluno. A teoria de ensino mostra um aluno passivo, o professor como detentor e repassador do conhecimento, a aprendizagem influenciada por fatores biológicos de conduta (estímulo e resposta) e o método de instrução programada, através da entrega de conteúdo. A prática de ensino proposta por Skinner tende a formar pessoas que apresentem muito volume de conhecimento, bastante focadas no trabalho, que respondam bem ao trabalho por processo e são bem ajustados ao ambiente. O método Skinner falha no propósito maior da educação que é a preparação de um profissional cidadão, que interfere e contribui nos processos decisórios políticos da sociedade. Esse tipo de formação necessita de uma abordagem mais significativa, onde o aluno possa compreender que não existem respostas prontas para os problemas que surgirão, mas que estas deverão ser construídas por nós. Devemos formar cidadãos que tenham a noção de seu papel contributivo na construção social e nesse aspecto, o professor deve funcionar como um mediador do conhecimento, apresentando elementos para que o aluno o construa. A educação deve propor a formação de indivíduos que tenham autonomia, que tenham capacidade de construir conhecimento, interagir com o meio através de ideias próprias, sendo capaz de criar e inovar a partir de uma visão única que tem do mundo.

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